Antes da revolução industrial, qualquer item necessário – desde uma colher, até um canhão – era feito de maneira artesanal, através de oficinas que possuíam apenas maquinários simples e dependiam de habilidosos funcionários.
O desenvolvimento das máquinas a vapor e da industrialização, democratizou a oferta de produtos baratos e práticos (nem sempre tão belos), concorrendo deslealmente com o minucioso trabalho artesão.
William Morris (1834-1896) foi um arquiteto Inglês que trabalhava com artes decorativas, produzindo pinturas em papéis de parede, padronagens para tecidos e livros. Incomodado com a crescente desvalorização do artesanato, tinha como desejo produzir objetos belos a preços acessíveis. Foi o principal integrante do movimento Arts & Crafts (artes e ofícios) – defendendo que a beleza podia fazer frente aos avanços da indústria, integrando a arte à vida cotidiana, constituindo as bases do que mais tarde se chamou de design.
Novos materiais de construção também se tornaram mais populares – como o ferro, o vidro e o cimento – levando à sociedade a questionar a repetição de modelos da antiguidade Greco-romana (com construções essencialmente de pedra esculpida branca, colunas gregas e frontões triangulares), que não mais correspondiam à dinâmica da sociedade efervescente.
Arts & Crafts trouxe à população novos objetos, móveis, anúncios, tecidos, roupas, jóias e acessórios belos, inspirados em formas da natureza, mas somente em 1893, o arquiteto Victor Horta (1861-1947) finalizou a Casa Tassel em Bruxelas, na Bélgica (portanto fora do eixo cultural França-Itália-Inglaterra). Uma obra inovadora, usando com leveza o ferro e o vidro, com formas delicadas obtidas da botânica e da zoologia. Surgiu então o Art Nouveau, que conseguiu se opor ao historicismo, valorizando o artesanato e afrontando a máquina fria, através da renovação do contato com formas naturais. Pode-se dizer que foi o primeiro movimento moderno a questionar a repetição de antigos modelos de decoração, numa sociedade em constante progresso e inovações sociais.
Gustave Eiffel (1832-1923), engenheiro de pontes e grandes equipamentos (já havia projetado a estrutura interna da Estátua da Liberdade) venceu um concurso com mais de cem participantes para o símbolo comemorativo do centenário da Revolução Francesa, dentro da Exposição Mundial de 1889. A Torre Eiffel foi a estrutura mais alta do mundo por 40 anos, desbancada em 1930 pelo Edifício Chrysler. Inicialmente construída como um equipamento temporário – para ser desmontado – permanece até hoje como símbolo máximo de uma Paris que respira o Art Nouveau. Para demarcar as entradas do metrô, uma nova solução de mobilidade que surgia, Hector Guimard (1867-1942) imprimiu toda sua criatividade com flores entrelaçadas, asas de insetos e serpentes, em magníficos exemplares em ferro forjado.
Na mesma cidade, durante o Natal de 1894, um pintor tcheco ofereceu-se para realizar um serviço às pressas. Alphonse Mucha (1860-1939) já dedicava-se ao desenho e à produção de painéis para cenários teatrais, e preparou os cartazes para que, sem atraso – no dia 1º de janeiro de 1895 – a peça “Gismonda” pudesse ser anunciada. As cores e delicados elementos femininos presentes nos anúncios tornaram-se sensação. O papel principal da peça era de Sarah Bernhardt, a mais famosa atriz européia do século XIX, que gostou tanto da arte nova de Mucha, que fechou contrato por 5 anos para que ele também produzisse palco e figurino. Mucha até hoje é referência nas artes decorativas, produziu muitos trabalhos, inclusive publicitários como é o caso da encomenda para a Moët & Chandon.
No Brasil, observam-se leituras e apropriações de aspectos do estilo novo na arquitetura e na pintura decorativa. Em sintonia com o boom do ciclo da borracha, entre 1850/1910, as cidades de Belém e Manaus possuem, incorporados à sua arquitetura, vários elementos Art Nouveau.
Em São Paulo, a maior representante do estilo é a Vila Penteado, projetada pelo arquiteto sueco Carlos Ekman (1866-1940) e construída em 1902 para abrigar duas importantes famílias paulistas, a do Conde Antonio Álvares Penteado e a de seu genro, Antônio Prado Junior. Situado na Rua Maranhão, no Bairro de Higienópolis, o prédio com mais de 60 cômodos foi doado à USP em 1949, e é até hoje a sede da Pós Graduação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo.
No Rio, a então capital do país, pode-se citar a Confeitaria Colombo, fundada em 1894 por sócios portugueses, com elementos da decoração interna e janelas no estilo. Nos seus salões passaram as mais conhecidas figuras brasileiras, como Chiquinha Gonzaga, Rui Barbosa, presidentes e artistas. A confeitaria funciona até hoje, eleita como um dos dez cafés mais bonitos do mundo, atraindo turistas ao centro velho da cidade.
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