Exposição Antropologia da Beleza apresenta fotografias de mais de 30 anos de convivência do autor com os povos indígenas
O fotógrafo e indigenista Renato Soares apresenta obras de mais de 30 anos de convivência com os povos indígenas, especialmente da Amazônia, na exposição Antropologia da Beleza, na Kobbi Gallery.
As décadas de aprendizados fazem do trabalho de Renato uma experiência singular e a mostra representa um mergulho num Brasil profundo e em transformação, invisível a muitos olhos. É, sobretudo, uma saudação à riqueza e à beleza diversa dos povos originários.
Um pouco da história do fotógrafo
Renato Soares nasceu no interior de Minas Gerais, na cidade Carmo do Rio Claro, no berço das Artes Plásticas e da Música. Desde pequeno teve contato com as tintas e os quadros a óleo da mãe Claudete, que era professora e artista plástica, e o pai Jair Soares, bancário e exímio compositor, cantor e violonista. Na biblioteca, dois temas o chamavam atenção: a história da Arte, em especial, os personagens e os contrastes entre o escuro e a luz de Caravaggio, e ao mesmo tempo, a coleção sobre as expedições de Rondon pela Amazônia e dos irmãos Villas Bôas nas aldeias do Xingú no Mato Grosso. Foi dessa maneira, dentro de casa, folheando os livros por horas e horas, e brincando pelas matas com uma máquina “Olympikus Trip 35”, que a curiosidade de conhecer de perto os povos indígenas brotou no coração de Renato, ainda menino.
O talento para a fotografia e a compreensão da força de uma imagem, também se mostraram muito cedo: aos 18 anos de idade, suas fotos da Serra da Cantareira foram publicadas nos jornais de São Paulo para denunciar o desmatamento na região. Com 25 anos, faz expedição para o interior do Amazonas, testemunha a ação ilegal de madeireiras no Vale do Javari e a Folha de São Paulo faz matéria de Capa do Jornal com as cenas flagradas por Renato com quilômetros de floresta caída por trator e corrente, com a cumplicidade de muita gente graúda, de dentro e de fora das nossas fronteiras. Em seguida, trabalha no Jornal do Brasil, na sucursal paulista.
Da estreia no jornalismo até sua inscrição para ouvir o sertanista Orlando Villas Bôas no Museu de Arte de São Paulo, não demorou muito. O interesse foi tanto que, depois da enxurrada de perguntas, Villas Bôas chamou Renato para trabalhar com ele na pesquisa das aldeias do Alto Xingú. Villas Bôas torna-se o Mestre de Renato para além da Academia. Os dois juntos vão construir uma fraterna amizade. Será na casa de Orlando que o indigenista irá conhecer a lendária fotógrafa Maureen Bisilliat e o antropólogo Darcy Ribeiro. Orlando e Renato, lado a lado realizam novas expedições, publicam livros, mostras de fotografias, organizam palestras, dividem o palco no Circuito SESC, com a missão de conscientizar o público da responsabilidade de manter a floresta em pé , e preservar o território e a cultura dos índios brasileiros.
Seu trabalho no campo da Antropologia, Arqueologia e da Museologia, unido ao Banco de Imagens, resulta em vasta produção acadêmica, documentário, dezenas de livros didáticos e de Arte. Entre eles, Soares gosta de destacar os que fez com Maureen Bisilliat: PAVILHÃO DA CRIATIVIDADE sobre o Acervo da Arte Popular da Fundação Memória da América Latina, em São Paulo; MINAS ALÉM DAS GERAIS que registra a arquitetura, o modo de vida e a história de todos os municípios de Minas, sua terra natal; UNIVERSO AMAZÔNICO, livro que documenta os costumes e as paisagens naturais dos 9 estados que compõe a Amazônia brasileira. Outro trabalho que ressalta é o registro fotográfico para a edição da tese de mestrado da antropóloga Magela Mafra de Andrade sobre os QUILOMBOS DO ANDIRÁ no interior do estado do Amazonas, livro com Apresentação do poeta Thiago de Mello, e o livro BARÉ: POVO DO RIO editado pelo SESC, com texto de José Ribamar Bessa Freire. Hoje, os três cientistas sociais: Bessa Freire, Magela Andrade, e o indigenista Renato Soares fazem parte do Conselho Diretor do Instituto Thiago de Mello.
O fotógrafo é colaborador de revistas conceituadas nas universidades, como a National Geographic e Scientific American. No Brasil, podemos destacar as exposições no Museu de Arte Moderna de São Paulo, nas Galerias do Centro Cultural da Caixa Econômica Federal com itinerário em diversas capitais do país, e no Museu da Amazônia (MUSA). No exterior, suas exposições fotográficas foram apresentadas na Pale de la Covier, em Paris, seguindo roteiro para Itália e Alemanha. Na América do Norte, expôs na New Gallery de Los Angeles e Canadá.
Da sua Fortuna Crítica, o texto do cineasta Luiz Carlos Lacerda traz o conteúdo histórico desde as primeiras expedições européias que retrataram os Tupinambás no século XVI, André Thevet, Jean de Léry e o alemão Hans Staden, até o século XX com o documentarista Genil de Vasconcellos que registrou os Xavantes, o fotógrafo da Revista “O Cruzeiro” José Medeiros, e o clássico Pierre Verger. O diretor de cinema vai considerar Renato Soares como o artista inaugurador de uma pesquisa e de uma linguagem absurdamente fiel aos gestos, às cores e ao Belo. A lente de Renato consegue penetrar na intimidade do ritual sem ser intruso. Torna-se um irmão de fato. Revela-nos a História com a cumplicidade de quem guarda um segredo, através do poder da Obra de Arte.
Antropologia da Beleza – Renato Soares – www.renatosoares.com.br – @renato_saores_foto
Local: Kobbi Gallery – www.kobbigallery.com
Endereço: Tv. Alonso, 23, Beco do Batman, Vila Madalena, São Paulo/SP
Período: até 13 de maio