A vista do morro Pão-de-Açúcar norteou o projeto desta cobertura linear, de 320m², de frente para a Praia do Flamengo
O casal de advogados cariocas Natália Gueiros e Antônio de Carvalho Neto estava morando em São Paulo há alguns anos e decidiu voltar para o Rio quando recebeu a notícia da gravidez da primeira filha, Maitê, hoje com dois anos. Como os dois sempre sonharam em ter um lar na Praia do Flamengo, não pensaram duas vezes quando se viram diante da oportunidade de comprar esta cobertura linear de 320m² – sendo 57m² só de varanda, debruçada sobre o morro Pão-de-Açúcar. Embora o imóvel estivesse bem preservado – permitindo, inclusive, uma mudança imediata -, os novos proprietários decidiram contratar os arquitetos Rafa Gomes e Sandro Batalha, do Studio Plano Arquitetura, para deixar o imóvel com a cara deles. “Na primeira vez que visitamos o apartamento, o impacto foi gigante. Ao abrir a porta, parecia que o morro Pão-de-Açúcar estava dentro da sala. Da varanda, a visão da Baía de Guanabara é de 180 graus, com Niterói bem à esquerda até a enseada de Botafogo. Sem dúvida, uma vista de tirar o fôlego”, conta Rafa.
Aliás, a vista sempre foi a prioridade dos clientes e este desejo norteou a elaboração do projeto, que não deveria tirar o protagonismo do famoso cartão postal da cidade. Inicialmente, a ideia era contemplar apenas a área social e a varanda, buscando a máxima integração desses ambientes com a vista. No entanto, durante o processo de elaboração do projeto, eles decidiram incluir também a área íntima do imóvel, com foco no quarto da filha. “Apenas a cozinha ficou de fora da reforma”, ressalta Sandro.
No geral, o projeto aposta em uma materialidade bem clara, leve e neutra na maior parte da área social. Na perspectiva de dentro para fora, esta neutralidade favorece o enquadramento da vista, destacando-a ainda mais. Paredes e teto brancos, pilares em concreto aparente bem claros e uma paleta que vai do bege ao cinza, em diferentes tons, dialogam com o piso existente, em tacos de peroba-do-campo, complementado nos pontos onde houve demolição e estendido por toda a circulação e a área íntima. Já os tons mais escuros aparecem em algumas peças de mobiliário para criar pontos de contraste.
Originalmente, o imóvel tinha uma parede de alvenaria com uma grande porta dividindo a sala de estar da sala de jantar, que foi demolida para integrar os espaços e aumentar a sensação de amplitude da área social. As esquadrias que entre sala e varanda foram desmontadas e refeitas, também para diminuir barreiras visuais e ampliar ao máximo o vão de integração entre elas. “Com essas demolições, o enquadramento da vista ganhou nova proporção, ainda mais impactante”, avalia Sandro. Outra intervenção pontual que surtiu grande efeito na valorização da vista foi a mudança no acesso principal ao apartamento, antes pela lateral da sala de estar, e agora mais ao centro, pela sala de estar. Já na área íntima, as intervenções na estrutura física foram pontuais para evitar uma obra mais prolongada.
Com a reforma, a área social foi setorizada em sala de estar central, sala de estar com tv e sala de jantar. No estar central, foi usado um sofá modular em ilha, com assentos voltados para três lados, com a intenção de conectar esta área com a varanda e a sala com tv. “A face do sofá voltada para o estar central e para a varanda é mais estreita, pois funciona com uma espécie de banco estofado. Já a face voltada para a tv tem assentos com dimensões mais generosas para garantir o conforto necessário neste tipo de ambiente”, explica Rafa. Por fim, o sofá ganhou ainda um módulo de madeira executado em marcenaria que “abraça” o pilar de sustentação e confere unidade visual ao conjunto de módulos. Próxima à cozinha, a sala de jantar se comunica também com um pequeno espaço gourmet instalado na lateral esquerda da varanda. Repare ainda no grande pórtico de muxarabi branco que cruza toda a extensão das salas – desde o acesso à cozinha, passando pelo acesso social e chegando à circulação que conduz à área íntima, ladeada por um armário de madeira natural, com portas tipo camarão que camuflam o bar e a adega.
Na decoração, alguns móveis brasileiros de design assinado foram aproveitados do acervo dos clientes (trazidos do apartamento anterior, em São Paulo), a exemplo da poltrona Mole, de Sergio Rodrigues. “Os clientes já tinham apreço pelo design nacional e contaram com a nossa curadoria para adquirir novas peças, considerando a linguagem e o layout do novo projeto”, informa o arquiteto Sandro Batalha. “A chaise de balanço Rio, do Oscar Niemeyer, era um sonho antigo dos clientes que eles conseguiram arrematar, casualmente, em um leilão, já na reta final de execução do projeto”, acrescenta o sócio Rafa Gomes. Outras peças de design nacional também se destacam no décor, como as poltronas Astúrias de Carlos Motta, sofá modular Gomos da Suíte Arquitetos para Lider Interiores, a mesa de centro Grampo de Fernando Mendes, o banco Leiff e os banquinhos Mocho de Sergio Rodrigues, a poltrona Galeto de Luan Del Savio, as poltronas Paulistano de Paulo Mendes da Rocha e poltrona Jangada de Jean Gillon.
“Nosso maior desafio neste projeto foi dosar nossas intervenções no sentido de respeitar e dar protagonismo a quem de fato merecia ser destacado: a vista do morro Pão-de-Açúcar e da Baía de Guanabara”, conclui o arquiteto Rafa Gomes, sócio do arquiteto Sandro Batalha, do Studio Plano.
Projeto: Studio Plano Arquitetura – @studioplano
Produção visual: Rodolfo Consoli – @rodolfoconsoli.arq