A Coleção Rizomas destaca a preservação do Bioma Pampa e a conexão entre arte e natureza.
Em sua segunda exibição na Paris Design Week, Tiago Braga fará o lançamento internacional da Coleção Rizomas, que destaca a importância da preservação do Bioma Pampa Brasileiro, compartilhando os mesmos valores do aclamado escultor, pintor e fotógrafo polonês-brasileiro Frans Krajcberg (1921-2017), reconhecido como o precursor da arte ambiental.
Nascido na Polônia e naturalizado brasileiro, Krajcberg sobreviveu ao Holocausto e se estabeleceu no Brasil em 1948, onde desenvolveu um trabalho artístico focado na denúncia da destruição ambiental. Suas esculturas, pinturas e fotografias servem como um poderoso protesto contra o desmatamento e as queimadas na Amazônia, promovendo a conscientização sobre a importância da preservação da natureza.
Tiago Braga comemora: “É uma honra ter a oportunidade de expor minha coleção no Espace Frans Krajcberg. Este museu, localizado em uma viela bucólica no 15º arrondissement, no coração da antiga Paris, abriga o antigo ateliê de Krajcberg. Sua dedicação à arte e sua visão de sustentabilidade são uma grande inspiração para mim, e poder compartilhar meu trabalho em um lugar tão significativo é extremamente gratificante.”
No clamor da temática expositiva, a Coleção Rizomas é composta por esculturas luminosas e bancos que transcendem a funcionalidade. Rizomas incorpora responsabilidades socioambientais e valores do Design Ancestral, metodologia idealizada por Braga que interpreta práticas e culturas tradicionais.
Com linhas orgânicas e fluidas, o design da Coleção Rizomas mimetiza a estrutura dos rizomas, emaranhados de caules e raízes que se estendem tanto subterraneamente quanto paralelamente à superfície do solo. Os rizomas interagem em fluxos contínuos, sem início ou fim, estratificando-se ora em bases sólidas, ora em formas aéreas.
Inspirada na interdependência e resiliência dos rizomas, onde cada parte contribui para a harmonia do todo, a Coleção Rizomas carrega um profundo simbolismo de conectividade e sustentabilidade. Este conceito é refletido em uma rede interativa de fios de lã torcida e feltrada, um recurso natural, renovável e biodegradável, extraído de maneira respeitosa.
Desenvolvida pelo designer Tiago Braga em parceria com as artesãs da Associação Ladrilã, a coleção valoriza o saber-fazer tradicional das artesãs rurais do extremo sul do Brasil e atualiza o manejo sustentável da lã de ovelha, promovendo a saúde dos rebanhos e a economia circular.
Com profundo respeito e admiração, Tiago Braga compartilha com Frans Krajcberg uma visão comum de sustentabilidade e preservação ambiental. A coleção Rizomas está profundamente enraizada na relação simbiótica entre arte e natureza, transformando elementos naturais para promover a conscientização. Enquanto os artefatos de Rizomas utilizam a lã de ovelha para simbolizar e preservar o Bioma Pampa, Krajcberg usava troncos, raízes e cinzas para manifestar a necessidade urgente de proteger os ecossistemas brasileiros. Ambos os trabalhos convergem na ideia de que a arte pode ser uma poderosa ferramenta de resistência e transformação, ressaltando a importância da conexão harmoniosa entre humanidade e natureza.
“Os artefatos culturais da coleção Rizomas retornam no espaço e no tempo e transportam-nos ao casarão da Estância Nossa Senhora de Lourdes, depois de percorrer uma longa estrada de chão que evidencia as distâncias que separam o mundo pastoril da cidade. Após a tosa responsável das ovelhas, no início do verão, as artesãs da Associação Ladrilã retornam ao campo e a lida, como suas vovós nas fainas da fazenda lavam a lã com água quente e sabão neutro e muitos enxágues. “Nesta etapa, buscamos aproveitar a água da chuva e da máquina de lavar. A água da primeira lavagem, inclusive, volta para o pasto como adubo carregando todos os nutrientes que estavam no pelo da ovelha.” Afirma Tânia Tunes Furtado, líder da Associação Ladrilã.
Ainda pela manhã no campo o ritual é preparado na sombra de uma figueira centenária, onde acomoda-se a lenha trazida pelo posteiro. O fogo aquece a água na panela com urucum enquanto o objeto de memória é pendurado na árvore, erguendo-se há 6 metros de altura sustentado por uma corda. Apenas as pontas dos fios alcançam a panela e mergulham lentamente no vermelho natural. Na cultura indígena, o urucum é considerado sagrado e possui uma forte ligação com a espiritualidade, sua cor vermelha está associada a diversos significados, como força, paixão, proteção e energia vital.
A lã é obtida com tosa australiana que respeita o bem-estar animal. Todo o processo é sustentável, respeitando os ciclos naturais das ovelhas. Mais de 300 metros de fio primitivo que constituem a escultura luminosa Rizoma são criados com o hábil movimento de mãos e dos pés, girando a roda e pedalando na roca de fiar, instrumento milenar, importante da história do trabalho e do cotidiano dos ofícios artesanais no Brasil, desde os tempos coloniais.”
Tiago Braga – @oiamodesignart