A pichação, um ato de rebeldia, foi para Eduardo Kobra a porta de entrada para o mundo das artes. O que era ilegal se transformou em talento

Como muitos dos brasileiros que nascem na periferia, sem oportunidades e repletos de influências negativas, Eduardo Kobra tinha tudo para seguir outro caminho. Mas a pichação, um ato de rebeldia, foi a sua porta de entrada para o mundo das artes. O que era ilegal se transformou em talento.

O menino que procurava deixar a sua marca no mundo, hoje é um dos mais bem conceituados artistas de rua, convidado para colocar suas obras nos muros de todo o planeta. Eduardo desenvolveu uma técnica original de muralismo, favorecida por suas características de artista experimentador, bom desenhista e hábil pintor realista. Seu projeto Muros da Memória procura transformar a paisagem urbana através da arte e resgatar a memória da cidade. Para conhecer um pouco mais da trajetória desse talentoso brasileiro, fomos conversar com Eduardo Kobra em seu estúdio, em São Paulo. Confira!

Revista Habitare: Como começou a sua história?
Eduardo Kobra: Eu sou paulistano, do bairro do Campo Limpo, e comecei com pichação. Esse foi o meu primeiro contato com a arte de rua, quando eu tinha 12 anos. Comecei a colocar meu nome em todos os lugares. Eu estudava em um colégio público e a onda do momento era a galera pichar. Só depois de uns 5 anos, por meio de uns filmes e livros, que vieram dos Estados Unidos, eu conheci os graffitis de Nova York e comecei a fazer desenhos no muro por influência desses artistas. Dois deles me influenciaram muito: Keith Haring e Jean-Michel Basquiat. Nessa época, eu já havia sido detido três vezes por pichação e resolvi partir para os desenhos.

Revista Habitare: Como começou a sua história?
Eduardo Kobra: Eu sou paulistano, do bairro do Campo Limpo, e comecei com pichação. Esse foi o meu primeiro contato com a arte de rua, quando eu tinha 12 anos. Comecei a colocar meu nome em todos os lugares. Eu estudava em um colégio público e a onda do momento era a galera pichar. Só depois de uns 5 anos, por meio de uns filmes e livros, que vieram dos Estados Unidos, eu conheci os graffitis de Nova York e comecei a fazer desenhos no muro por influência desses artistas. Dois deles me influenciaram muito: Keith Haring e Jean-Michel Basquiat. Nessa época, eu já havia sido detido três vezes por pichação e resolvi partir para os desenhos.

H: Você encarava então como um hobby?
K: Ainda é! Primeiramente, eu faço o meu trabalho porque eu gosto. Mas obviamente as contratações me permitiram fazer trabalhos melhores, contratar uma equipe e evoluir. Até hoje, muitos dos meus trabalhos são feitos por prazer, pela satisfação de colocar minha arte na rua. As Prefeituras, na verdade, só cedem o espaço, o que já é uma coisa muito difícil, por causa da lei Cidade Limpa. No meu caso, eles abrem uma exceção porque as obras falam um pouco sobre a história da cidade e as pessoas acabam criando uma relação com esse muro.

H: Como funciona a sua técnica?
K: Eu sempre tive intimidade com os muros, por isso sempre pensei em usá-los de uma forma diferente. Criei então uma identidade visual para o meu trabalho, dentro do meu universo e comecei a desenvolver desenhos ligados à cultura popular brasileira, protestos relacionados ao meio ambiente e imagens antigas, temas com que eu sempre me identifiquei. A minha visão era essa: eu passava na rua, enxergava um espaço bacana, fotograva, pedia autorização para o proprietário e depois criava alguma coisa ali.

H: Quais superfícies já receberam uma obra sua?
K: As possibilidades são infinitas. Mas eu procuro preservar ao máximo o meu trabalho da parte comercial. Eu poderia estar com a minha arte estampada em milhares de produtos. Eu fiz pouca coisa até agora e tomo muito cuidado para que isso não vulgarize toda a minha obra.

H: Você tem problema com plágio dos seus trabalhos?
K: O que existe muito são outros artistas copiando o que eu levei mais de 20 anos para criar. Não são pessoas que se inspiram por mim, mas que simplesmente copiam. Hoje, nos Estados Unidos e na França, empresas fazem pôsteres utilizando minhas obras. Se por um lado isso divulga meu nome e meu trabalho, ao mesmo tempo eles estão comercializando os produtos e ganhando dinheiro às minhas custas. Eu já vi meus desenhos estampando capa de celular, de tablet e até caderno, tudo sem a minha autorização.

H: O que é mais interessante durante o processo de criação? O que te dá mais prazer?
K: Hoje, eu posso desenvolver meus novos trabalhos com mais liberdade e identidade. Algo que eu comecei a fazer ilegalmente, e fui até preso, hoje, eu tenho prefeito que já foi inaugurar mural, tenho obra dentro de delegacia. Para mim, a satisfação está em poder usar os espaços da cidade e colocar minha arte ali. Eu pinto por prazer. Depois, eu passo de carro e fico cuidando desses muros que eu fiz.

H: Como surgiu essa linguagem das cores, que viraram uma marca do seu trabalho atual?
K: Em uma exposição sobre fotos antigas, na Avenida Paulista, quando olhei pela janela eu vi que todos aqueles casarões, que apareciam nas fotos, haviam sido demolidos. Tive então a ideia de recriar esses casarões, em preto e branco mesmo. Depois comecei a dar vida às imagens, com as cores. As formas geométricas surgiram da história do meu pai, que era tapeceiro e tinha uma oficina em casa. Minha infância foi no meio daqueles catálogos. Eu curtia muito esses padrões de tecidos, que ficaram na minha cabeça e agora estão presente em minhas obras.

H: Qual foi o seu maior trabalho em dimensões e quais são as suas principais obras?
K: Antes, o maior era o da Avenida 23 de Maio, em São Paulo, mas agora nós pintamos um em Macaé (RJ) que tem o dobro do tamanho, com 2.200 m2. As mais importantes, a do Oscar Niemeyer, na Paulista, a do V-J Day, em Nova York, e a do Albert Einstein, em Los Angeles.

H: O que é o Green Pincel? Você acha que um artista pode contribuir para melhorar o mundo?
K: Eu tenho uma ligação muito forte com os animais. Uma vez eu tive essa ideia de colocar nos muros meus protestos em relação a rodeios, touradas, matança de baleias, de golfinhos… Os muros têm uma visibilidade gigantesca e se conseguir despertar algo nas pessoas, eu acho que será interessante.

H: Como você administra o reconhecimento que está recebendo por seu trabalho?
K: A arte nas ruas da cidade é a mais democrática. Hoje, artistas de galerias também estão fazendo seus trabalhos nas ruas. Eu continuo na rua independente de qualquer reconhecimento da mídia. Esse reconhecimento veio da autenticidade do trabalho e pela minha dedicação, mas não me iludo com isso. A motivação maior não é estar no jornal ou na televisão. O que me move é pintar nas ruas.

H: Seu trabalho é requisitado no mundo todo, seu ateliê é o mundo. Em que países você está?
K: Estamos com novos projetos em oito países. Lugares muito diferentes, como Dinamarca, Suécia, Roma, Paris, Barcelona, Estados Unidos, Canadá, Austrália… Primeiramente fico surpreso com essa ótima procura, mas estamos nos organizando para administrar tudo isso.

H: Com 30 e poucos anos você já atingiu um nível de reconhecimento e amadurecimento profissional que muitos artistas levam uma vida para conseguir. O que ainda há para almejar?
K: Eu comecei com 12 anos e sou hiperativo. Então, enquanto meus amigos e artistas que eu conheço estavam no bar, curtindo a vida, eu estava trabalhando dia e noite, domingo e feriado. Por isso, eu consegui fazer uma quantidade gigantesca de trabalhos por essa dedicação. Minha grande motivação é realmente pintar. É isso que me traz felicidade!

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