As peças de cerâmica de Ana Bozelli carregam sua emoção de lidar com a terra, com o desenho e com a beleza do que elas vêm a ser
Apaixonada pelas artes e pelos trabalhos manuais, foi há 12 anos, quando começou a trabalhar com a terra, que a ceramista Ana M. Bozelli se sentiu realmente criando pela primeira vez.
“O bem-estar que senti foi tão grande, que comecei a dar vazão a todo o sentimento que aquele trabalho me proporcionava, transformando emoção em criatividade”.
E quanta criatividade! Ao longo dos anos, a ceramista produziu centenas de peças, para as mais variadas funcionalidades, participou de exposições, ensinou sua arte e criou o ABozelli Studio, ateliê onde utiliza as técnicas ancestrais da cerâmica para criar peças contemporâneas e cheias de vida.
Isso mesmo, vida! Para a ceramista, a terra é viva e por isso cada objeto produzido tem características e histórias únicas.
“A terra responde de uma maneira diferente a cada peça produzida, cada uma tem um desenho, uma forma, um sentimento. E essa é a riqueza da cerâmica”.
Em meio ao torno, fornos, tintas e argilas (nacionais e importadas), tudo ecologicamente correto e sustentável, a ceramista produz e vende no ABozelli Studio itens utilitários, como jogos de jantar, de chá e café, copos, travessas e panelas (que vão à máquina de lavar louças e ao micro-ondas); itens de decoração, como jarros, vasos, cubas para pias, luminárias, pisos e pastilhas; além de peças variadas para o jardim. O processo de criação, além da argila, inclui ainda elementos como ouro, vidro e ferro que garantem ainda mais originalidade às peças.
A história de Ana M. Bozelli com os trabalhos manuais começou bem antes da sua relação com a cerâmica.
“Desde bem criança aprendi a bordar, costurar, fazer crochê. Com o tempo fui me interessando por outras artes, como a pintura em tecido, depois em tela, em cerâmica, até decidir aprender a criar minhas próprias peças. No começo, achava que não conseguiria, mas com paciência fui aprendendo a me relacionar com a terra e com o que ela me proporcionava de sentimentos”.
No ABozelli Studio, Ana também se dedica a ensinar o trabalho em cerâmica. Os cursos incluem aulas de torno, placas de cerâmica, pintura em alta e baixa temperaturas. “As aulas podem ser ministradas para adultos ou crianças. O trabalho com as mãos e com a argila requer paciência, cuidado e atenção que trazem uma paz extrema. É uma verdadeira terapia”, ressalta a ceramista, que sonha em tornar seu ateliê um espaço para que os apaixonados pela arte milenar da cerâmica possam se encontrar, aprender, adquirir peças únicas e passar um tempo agradável.
Para tornar isso possível, além dos cursos e das vendas, ela também promove eventos, como chás e jantares, onde proporciona momentos de bem-estar e cultura aos participantes. Em um deles, Ana fez uma palestra, onde apresentou aos convidados a riqueza de uma das técnicas mais originais do trabalho com cerâmica, a Raku, técnica japonesa de queima da cerâmica no chão, praticada desde o século 12, para a queima das peças das tradicionais cerimônias do chá.
Mas a história da cerâmica é mais antiga. Antes do fim do período Neolítico (ou da pedra polida), que compreendeu, aproximadamente, de 26.000 AC até por volta de 5.000 AC, a habilidade na manufatura de peças de cerâmica deixou o Japão e se espalhou pela Europa e pela Ásia. Na China e no Egito, por exemplo, a utilização da cerâmica remonta há mais de cinco mil anos. Nas tumbas dos faraós do Antigo Egito, vários vasos de cerâmica continham vinho, óleos e perfumes para fins religiosos.
A história torna o trabalho em cerâmica ainda mais belo, uma vez que, ao longo dos séculos, a técnica milenar segue praticamente a mesma: argila umedecida moldada e queimada em altíssimas temperaturas transformando-se em arte.
“Há quem enxergue como antiguidade. Eu vejo a cerâmica como algo belo, inovador e atual. A argila que é modelada com as mãos passa por uma transformação onde a delicadeza, a energia e a criatividade unem-se às forças da natureza, Terra, Água, Fogo e Ar. Trabalhar com cerâmica é uma dádiva de Deus”.