Tripulação do +Bravíssimo destaca o potencial da vela brasileira

Esporte que mais rendeu medalhas de ouro ao Brasil na história dos Jogos Olímpicos, junto ao atletismo, a vela tem despertado a curiosidade dos brasileiros. Quem esteve em Ilhabela entre os dias 19 e 27 de julho, pôde conferir de perto a 51º edição da Semana Internacional de Vela de Ilhabela Daycoval, considerada o maior evento náutico da América Latina.

Em 2024, mais de 100 veleiros de diferentes estados e países, incluindo Argentina e Uruguai, participaram das regatas no litoral norte de São Paulo, organizadas pelo Yacht Club de Ilhabela (YCI). Mas foi a tripulação capixaba do +Bravíssimo que ganhou destaque ao vencer as regatas Alcatrazes e Souza Ramos; o Brasileiro de ORC e o geral da Semana de Vela.

Baseada em Vitória, a tripulação semi-profissional representa o Iate Clube do Espírito Santo e é composta pelos amigos Luciano Secchin, Alexandre Arantes, Fabiano Porto, Leonardo Oliveira, Bruno Falco e Jens Ulfeldt; e por três velejadores profissionais, Alexandre Paradeda, Alfredo Rovere e Julio Carvalho.

“Nos conhecemos desde a adolescência e moramos no mesmo bairro. Em 2016, conseguimos comprar um barco usado e começamos a velejar de forma amadora. Ainda hoje, aos sábados de manhã, nos organizamos com as esposas e as crianças, e saímos para velejar”, conta Luciano. “No final das contas, velejamos muito mais juntos do que barcos com orçamento maior, em que a maior parte da tripulação é profissional”, completa.

O entrosamento superou as expectativas da equipe, que visava o quarto lugar no geral da Semana de Vela. “A vela de oceano é um esporte de equipe. Costumo dizer que é um time de futebol em um carro de corrida. O equipamento é super importante, as velas, mas você tem muita gente em cima, então, isso precisa ser gerenciado. Desde a capacidade de cada um ao orçamento, que no nosso caso é muito menor do que a média”, explica o velejador.

Apesar do bom desempenho brasileiro nas Olimpíadas e nos campeonatos mundiais, a vela ainda é considerada um esporte de nicho no país. “No mundo todo, mas no Brasil é impressionante. Isso acontece, em parte, pelo difícil acesso às águas, antes controlado pelos clubes náuticos, e ao estigma de ‘esporte de rico’. É um esporte caro, mas já foi muito mais e, hoje, temos um acesso facilitado via projetos sociais”, pondera Luciano.

Um grande exemplo é o Projeto Grael, fundado em 1998 com a missão de democratizar a vela. A criação de uma escola pública de vela em Niterói, no Rio de Janeiro, foi a maneira de honrar a cidade que detém a maior coleção de medalhas olímpicas do país. “A grande saída para a vela deslanchar no país está em dois lugares: nos clubes náuticos, que devem se abrir para quem veleja, e nos projetos sociais, que formam não só velejadores, mas profissionais para a própria indústria naútica, que podem atuar no estaleiro, no veleiro”, afirma.

Design e performance
Na Semana Internacional de Vela de Ilhabela
, os vencedores são definidos por tempo corrigido, onde o primeiro barco a cruzar a linha de chegada não é necessariamente o ganhador da prova. Para isso, todos os barcos participantes na classe ORC passam por um sistema de medição preciso, onde é calculado o tempo necessário para aquele barco completar a regata considerando seu tamanho, peso e vela. Dessa forma, embarcações de diferentes portes e características podem competir lado a lado.

Ainda assim, o design da embarcação é fundamental para a performance. “Há 15 anos, os barcos eram muito diferentes. Hoje, temos programas de simulação de performance e é possível otimizar o barco para o regime de ventos do país. No Brasil, por exemplo, venta muito menos do que na Argentina, então, o barco precisa estar otimizado para isso. Precisa ser um barco leve, com centro de gravidade mais alto, formas de vela específicas para vento fraco. Mas também é um barco que sofre muito em dias de vento forte”, explica Luciano.

Na divisão Cruiser, à qual pertence o +Bravíssimo, os barcos ainda possuem algumas acomodações, como cozinha e banheiro. “Na véspera da regata, tudo que é permitido retirar, a gente retira. Não podemos retirar botijão de gás, estofamento ou vaso sanitário, mas panelas, talheres, comidas, tudo… A fórmula não diz se seu fundo está limpo, se você deixou um saco de arroz de 15 kg dentro do barco, se suas velas estão velhas ou desreguladas”, diz.

Com a casa em ordem, entra em cena a tática. “Ilhabela é um lugar que tem muita corrente. Não basta vento forte, até porque ele não é uniforme. Você precisa procurar lugares de mais vento, na direção correta, com menos corrente. Existe todo um jogo, nisso o Alexandre, o Alfredo e o Julio são fenomenais”, diz Luciano, que destaca a concentração como diferencial para esta vitória. “Começamos bem, mas nem por isso aceitamos o que tínhamos garantido e entregamos para os barcos favoritos. O tempo todo tiramos tudo o que era possível daquele barco”, completa.

Após o sucesso em águas nacionais e com o patrocínio da Gramil, a tripulação do +Bravíssimo segue para o campeonato do Yacht Club Argentino, em outubro; e para o Circuito Rolex Atlántico Sur 2025, em janeiro de 2025.

Semana Internacional de Vela de Ilhabela Daycoval – @sivilhabela