Diferente da configuração tradicional do “sobrado paulistano”, onde prevalece a dimensão longitudinal, a Casa Selene ocupa um lote quadrado de 65m²
A Casa Selene é o resultado de uma ampla reforma em um imóvel datado do ano de 1955, localizado no bairro da Pompéia, em São Paulo. A residência, inserida em um contexto urbano, sofreu uma série de intervenções ao longo das décadas, conforme o desejo dos antigos moradores, que fragmentaram os ambientes e desconfiguraram a fachada original.
O projeto buscou recuperar as características positivas do imóvel, tanto dos ambientes internos, como o jardim, quanto da fachada e sua relação com a rua e com a vizinhança. Para além disso, o projeto buscou potencializar a ocupação dos espaços, pensando em um modo de vida atual e suas necessidades correlatas.
Diferente da configuração tradicional do “sobrado paulistano”, onde prevalece a dimensão longitudinal do lote, a Casa Selene ocupa um lote quadrado de 65m². O projeto buscou tirar partido desta característica, criando um arranjo interno fluído, integrado, e com dimensões mais confortáveis. Para isso, boa parte das paredes internas do pavimento social foram removidas, bem como, um trecho de laje não original, que fechava o antigo jardim, configurando, dessa maneira, um único ambiente multifuncional. Construídas de tijolo maciço, método construtivo da época, e por tanto, estruturais, as paredes removidas foram substituídas por pilares e vigas metálicas, deixadas aparentes. As paredes preservadas foram descascadas, relevando os seus tijolos, o mesmo processo foi realizado na laje de concreto pré-moldado.
No pavimento destinado aos ambientes íntimos, também foi proposto um novo layout, dessa vez aproveitando os vãos estruturais das treliças de madeira do telhado, que foram preservadas e restauradas. A fim de ampliar os espaços e acompanhar a geometria das treliças, os forros dos dormitórios foram executados com inclinação, aumentando consideravelmente o pé direito desses ambientes.
A fachada da residência, diretamente conectada à rua, foi outro ponto de atenção do projeto de reforma. As aberturas originais foram alargadas e ajustadas em concordância com o novo layout interno, possibilitando maior entrada de luz natural e ventilação cruzada, em conjunto com a abertura vertical do jardim. As aberturas remodeladas da fachada reforçam o diálogo do interior da casa com o cotidiano da rua e a paisagem.
Para o melhor controle da incidência de luz solar na fachada, foram instaladas molduras metálicas, com diferentes profundidades, ao redor dos vãos. Atuando como brises, principalmente no período vespertino, essas molduras também trouxeram dinamismo visual à arquitetura do edifício. Ainda na fachada foram preservados e expostos parte dos tijolos da construção original, reforçando, mais uma vez, o encontro entre o desenho contemporâneo e a memória da edificação.
A preferência pelo emprego de materiais naturais, como: a pedra basalto e a madeira nogueira, para revestir os pisos dos ambientes, ou a pedra quartzito na bancada da cozinha, proporcionou a atmosfera de acolhimento e conforto desejado para os espaços da casa. O predomínio da cor branca nas paredes e na marcenaria buscou reforçar a sensação de amplitude e claridade, servindo como um plano de fundo neutro para o mobiliário e para a decoração que mistura épocas. Peças criadas por uma nova geração de designers brasileiros, foram combinadas com peças de maior carga emocional, provenientes de antiquários ou heranças de família. No pavimento social, a mesa de jantar, desenhada exclusivamente para esse projeto, gira no eixo do pilar metálico central, possibilitando diversas configurações de layout e usos dentro deste ambiente sem explícitas fronteiras programáticas.
Projeto de arquitetura e interiores: EIXO Z arquitetos – www.eixozarquitetos.com – @eixozarquitetos
Autores: Daniela Zavagli e Guilherme Zorzella