O jardim tropical valoriza a biodiversidade local e cria um refúgio integrado à arquitetura
Um refúgio imerso na natureza”: assim define a arquiteta paisagista Flávia D’Urso o projeto paisagístico desenvolvido por ela para uma casa de veraneio no sul da Bahia, projetada pelo escritório @isarebelloarquitetura, com 5.930m² de área externa. Originalmente, o terreno era todo limpo, com algumas árvores e palmeiras já existentes. Os clientes, um casal com três filhos, dois deles já adultos e uma adolescente, gostam de receber os amigos, valorizam os momentos em família e o contato com a natureza. Por este motivo, desejavam um paisagismo que se integrasse à paisagem local e contasse com muitas espécies nativas – foram usadas cerca de 70 espécies no projeto, com características da região de restinga da Mata Atlântica.


O projeto paisagístico foi desenvolvido em paralelo ao de arquitetura, assinado pela arquiteta Isabella Rebelo, buscando equilíbrio e harmonia entre eles através dos acabamentos naturais, como a pedra da fachada e o deck de madeira. “Por ser uma casa térrea, a construção permitiu ser envolvida pela natureza. Inclusive, o design de interiores também traz uma conversa muito próxima com o projeto de paisagismo, através das cores e dos materiais naturais”, conta Flávia.


Além da arquitetura, as características do local também nortearam a concepção do projeto. O solo encharcado, as áreas de preservação, a salinidade, os ventos e o calor intenso, que trazia uma preocupação com o conforto ambiental dos clientes foram estudados para o seu desenvolvimento. Exemplo disso é o lago, em frente ao deque da piscina, criado para permitir a drenagem do terreno. Além dele, que ganhou espécies como ninfeia (Nymphaea rubra), vitória-régia (Victoria amazonica) e papiro (Cyperus papyrus), a paisagista também contribuiu com o desenho dos acessos, em especial a rampa para os veículos – um desafio devido à topografia e às áreas encharcadas.


Para trazer a linguagem de uma casa litorânea no paisagismo, Flavia selecionou uma variedade de palmeiras, como a palmeira-laca (Cyrtostachys renda), a palmeira-carandá (Copernicia alba), a palmeira-rabo-de-raposa (Wodyetia bifurcata) e a areca-bambu (Dypsis lutescens), usadas para reforçar a privacidade da área de lazer. Também foi dado um grande destaque para a família dos filodendros, como o guaimbê (Philodendron bipinnatifidum), o filodendro pinnatifidum (Philodendron pinnatifidum), o filodendro ondulato (Philodendron undulatum) e o xanadu (Philodendron xanadu), que fazem volume com uma grande variedade de tons de verde, texturas e movimento.


“Além das palmeiras e filodendros, alcançamos a tropicalidade almejada com as musáceas, heliconeáceas e strelitzias”, descreve Flávia. Dessas famílias, destacam-se nos jardins a bananeira-de-Sumatra (Musa sumatrana), a helicônia pássaro-de-fogo (Heliconia bihai), a helicônia- papagaio (Heliconia psittacorum), a bananeira-do-brejo (Heliconia rostrata), a estrelícia ou ave-do-paraíso (Strelitzia reginae) e a árvore-do-viajante (Ravenala madagascariensis). Já o colorido se fez presente nas flores de muitas espécies utilizadas e nas bromélias Porto-Seguro (Aechmea blanchetiana) – além de serem nativas da região, os clientes também queriam inseri-las no jardim. “O uso dessa espécie nos permitiu manter a identidade e linguagem da vegetação do entorno, sendo distribuída pelo terreno com muita naturalidade através de desenhos fluidos e orgânicos”, conta a paisagista.




O sistema de irrigação é outro ponto de atenção para Flávia e foi essencial para este projeto, considerando as condições climáticas e de salinidade em uma casa na praia: “Uma exigência que faço em meus jardins é que o sistema de irrigação seja de gotejamento, enterrado e completamente automatizado. Acredito que ele deva ser discreto, para não roubar a atenção que deve ser toda voltada para as plantas”, explica. Aos jardins, foram somados também elementos decorativos, como um barco de madeira, um banco em madeira maciça feito por artesãos locais e uma escultura de cavalo do artista Emerson de Paula, todos escolhidos pelos moradores.


A diversidade de espécies e composições, inspirados no bioma local, resultou, portanto, em um projeto de paisagismo harmônico e convidativo, como define Flávia D’Urso: “um jardim tropical com muito verde, texturas e volumes em maciços diversos, buscando reproduzir a forma natural do entorno, com muito foco na diversidade e no conforto climático tanto para as plantas quanto para as pessoas que vão usufruir deste ambiente cercado pela natureza”, conclui a paisagista.


Flávia D’Urso – @flaviadurso_paisagismo
Isabella Rebello Arquitetura – @isarebelloarquitetura